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Sobre o Salão de  Outubro

História

Na década de 1970, em meio às turbulências que marcaram os anos de opressão política e estética no país, nas diversas regiões brasileiras, alguns artistas conseguiram resistir com novas possibilidades de realização artística. Em 1973, “algo” de novo surge na cena artística da cidade do Crato e do Cariri cearense: o Grupo de Artes Por Exemplo – artistas que se uniram no propósito de formar um núcleo de produtores e divulgadores das expressões da arte local. Não vou aqui citar os nomes, por serem dezenas e posso esquecer alguns. A principal marca do Grupo de Artes Por Exemplo foi a diversidade das tendências, que se identificavam no objetivo de projetar a cultura do Cariri cearense (extrapolando o triângulo Crajubar) para o país. Contando inicialmente apenas com autores residentes na cidade do Crato, depois incluindo artistas de Juazeiro do Norte e de outras cidades da região, o núcleo destacou-se por realizações importantes, montagens de peças teatrais, filmagem dos primeiros curtas-metragens da cidade e a realização da mostra de arte que ficou conhecida como “Salão de Outubro”. O Salão de Outubro teve a sua primeira edição entre os dias 26/10 e 03/11 de 1974 e transformou-se, ao longo dos anos, em um dos eventos culturais mais importantes da cidade do Crato e do Cariri cearense, já que congregou pintores, escritores, poetas, atores, compositores e cineastas em torno da ideia de promover mostras de seus trabalhos e dos seus espetáculos, bem como promover o intercâmbio com outros centros artísticos do Nordeste e de outras regiões brasileiras.

O Grupo de Artes Por Exemplo transformou-se no Nação Cariri — movimento cultural mais amplo, já envolvendo artistas de Fortaleza e de outras capitais brasileiras, editando jornais, revistas, livros, produzindo espetáculos musicais, filmes, discos etc. O Nação Cariri continuou junto ao Salão de Outubro, que também foi realizado pelo Folha de Pequi, pela Turma do Parque e por outros grupos, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, chegando um dos Salões a ser realizado já no início do século XXI. O Salão virou uma espécie de propriedade coletiva, onde jovens artistas de diversas gerações iam recriando. O evento foi realizado em diversos espaços da cidade: Museu Histórico e prédio da Cadeia Pública, Calçadão da Praça Siqueira Campos, Praça da Sé e, durante muito tempo, na Praça do Parque.

Uma característica marcante do Salão de Outubro era a opção de reunir culturas e artes, de diversas procedências étnicas, sociais e culturais, naquilo que enxergávamos como sendo o “Grande Cariri” — a vasta região que abrange quase todos os estados nordestinos, onde se fizeram fortes as influências afro-ibero-cariri (caboclas), tendo Juazeiro como a Grande Meca — onde acontece uma experiência civilizatória original. Havia uma concepção bem aberta do conceito de “nação”, como um espírito de luta e de resistência, inspirado na Confederação dos Cariri (a chamada “Guerra dos Bárbaros” — 1650/1720). Nos diversos salões que aconteceram, sempre houve, por parte dos artistas, a necessidade de unir a chamada “arte alternativa” — mais ligada à juventude nordestina daquela época — à tradição da cultura popular. O evento pretendia unir através de linguagens diferentes, promovendo um encontro com os símbolos universais e os elementos da cultura local (que também traziam as marcas de muitos povos e culturas do mundo), buscando o surgimento do novo, através da hibridação da tradição regional com as inovações artísticas mais amplas.

Um evento de múltiplas linguagens, reunindo artes plásticas e visuais, cinema, teatro, performances, música e literatura. O grande diferencial era unir artistas já reconhecidos com iniciantes, artistas ditos de vanguarda com artistas da tradição, misturando gêneros e classes sociais, no que se convencionou na época chamar-se de “cultura insubmissa”, ainda com ressonância dos movimentos de “contracultura”. Esse era o “espírito transmoderno” do Salão de Outubro naquela época. Houve uma grande produção cultural e artística nesse período e o saldo foi muito positivo para a cultura cearense. O “espírito insubmisso” que se mantém na contemporaneidade, quando acontecerá, em outubro, uma nova edição do Salão — numa festa-celebração dos seus 50 anos (1974-2024).

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